19.9.06

“(O que se segue é uma peça em um acto baseada num incidente da vida de Abraham Lincoln. O incidente pode ser, ou não, verdadeiro. O importante é que eu estava cansado quando a escrevi.)

I
(Lincoln, com uma impaciência juvenil, chama George Jennings, seu adido de imprensa.)

Jennings: Chamou-me, senhor Lincoln?
Lincoln: Sim, Jennings,. Entre. Sente-se.
J.: O que deseja, senhor presidente?
L. (incapaz de simular um sorriso): Quero discutir uma ideia.
J.: Sim, senhor.
L.: A próxima vez que tivermos uma conferência de imprensa…
J.: Sim?
L.: Quando chegar a altura das perguntas…
J.: Sim, senhor presidente…?
L.: Você levanta a mão e pergunta-me: «Senhor presidente, de que tamanho pensa que devem ser as pernas de um homem?».
J.: Desculpe?
L.: Você pergunta-me de que tamanho é que eu penso que devem ser as pernas de um homem.
J.: Posso perguntar-lhe porquê?
L.: Porquê? Porque eu tenho uma resposta excelente.
J.: Tem?
L.:Do tamanho suficiente para chegarem ao chão. É a resposta! Está a ver? De que tamanho devem ser as pernas de um homem? Do tamanho suficiente para chegarem ao chão!
J.: Estou a ver.
L.: Não acha engraçado?
J.: Posso ser franco, senhor presidente?
L. (aborrecido): Bem, hoje essa resposta provocou uma boa gargalhada.
J.: A sério?
L.: Claro. Estava com alguns amigos e com os membros do meu Gabinete, um homem fez-me a pergunta, eu disparei essa resposta e a sala ia vindo abaixo.
J.: Posso-lhe perguntar, senhor Lincoln, qual o contexto em que ele fez a pergunta?
L.: Desculpe?
J.: Estavam a discutir anatomia? O homem era cirurgião ou escultor?
L.: Bem…hum…acho que não. Não. Julgo que era um simples camponês.
J.: Bem, por que é que ele queria saber isso?
L.: Bem, não sei. O que sei é que era alguém que me tinha solicitado uma audiência urgente…
J. (preocupado): Estou a ver.
L.: O que se passa, Jennings, você está pálido.
J.: É uma pergunta muito estranha.
L.: Sim, mas fiz um grande sucesso. Foi uma resposta muito rápida.
J.: Ninguém o nega, senhor Lincoln.
L.: Uma grande gargalhada. A casa ia vindo abaixo.
J.: O homem disse alguma coisa?
L.: Disse obrigado e saiu.
J.: E não lhe perguntou por que é que queria saber a resposta?
L.: Se quer saber, fiquei muito contente com a minha resposta. Do tamanho suficiente para chegarem ao chão. Veio-me tão rapidamente! Nem hesitei.
J.: Eu sei, eu sei. É que, bem, toda esta história me deixa preocupado. “
( " A pergunta", Woody Allen)

3 Comments:

At 9/20/2006 12:44:00 da manhã, Blogger Urtigão said...

Não sei se tem alguma coisa a ver se não, mas no final só me veio à cabeça um velho ditado que dava o seguinte conselho.
Não dês passos maiores que as pernas, podes tropeçar e cair.

 
At 9/20/2006 05:11:00 da tarde, Blogger Jerico & Albardas, Lda. said...

Isto é mais do estilo: pão e circo, condimentado com narcisismo balofo.
digo eu...

 
At 9/22/2006 03:23:00 da tarde, Blogger lua-de-mel-lua-de-fel said...

Urtigão o bom na arte e na literatura é a possibilidade de interpretação.
A minha intenção, contudo, vai mais onda do comentário do Jerico.

 

Enviar um comentário

<< Home