Este país não funciona

As notícias de Esmeralda continuam a ser capas de jornais. Páginas inteiras dedicadas a um caso que os tribunais têm em mãos há tempo demais, mas que só agora suscitou a indignação nacional e gerou um movimento que ameaça asfixiar e toldar a justiça.
E tudo isto para assegurar que a menina não sofra. Nem que para isso tenha de continuar escondida por mais quatro anos.
Mas mesmo que venha a ser entregue à mãe ou ao pai biológico, há uma preocupação legítima, por parte das instituições públicas, em garantir um acompanhamento e uma transição suave na sua nova vida, que contará com uma participação necessária e fundamental dos pais adoptivos (Agora também já designados por pais afectivos).
E não faltam teorias sobre este assunto, nem psicólogos prontos a colaborar. Nem damas de ex-presidentes da república.

Entretanto, no mesmo país, a poucos quilómetros deste triste espectáculo mediático e longe das luzes da demagogia, retiram discreta e subitamente duas filhas, uma de 3 e outra de 11 anos, a uma mãe, a quem nem lhe concederam o direito e a humanidade de se despedir delas.
Apesar de não haver relatos de maus tratos ou problemas de subnutrição. Apenas porque não tinha condições financeiras para construir uma simples casa de banho e colocar água canalizada em casa.
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Vivemos num país podre, onde os critérios e as prioridades se definem nas televisões, nos jornais e nas revistas cor-de-rosa. Vivemos num país onde há dinheiro para investir em referendos hipócritas e onde se perdoam impostos milionários a clubes de futebol mas não há dinheiro para auxiliar uma mãe a dar um mínimo de condições aos seus filhos.