11.1.07

A nossa classe política é um aborto

Dia 11 de Fevereiro os portugueses vão ter de pronunciar-se em referendo sobre o aborto.
Vão ter de responder a uma pergunta que encerra várias questões que os obrigarão a decifrar e a esmifrar quais os principais valores em jogo. Valores que muitos não conseguirão encontrar por si só. Vão ter de decidir sobre uma pergunta que dividirá o país. Vão andar dias e dias em campanhas populares de degladiação mútua. Vão ter de decidir por um Governo e pelos partidos politicos com assento na Assembleia da República, sobre uma matéria que poderia ter provocado clivagens nas várias forças políticas. Mas não provocou. Inclusivamente, e com a excepção do PSD, todos os partidos políticos apresentam uma posição oficial. Assim sendo, qual o sentido deste referendo? Se a esmagadora maioria dos partidos politicos conseguiu definir uma posição oficial, porque razão pedem a opinião dos portugueses numa matéria tão delicada e melindrosa para a qual eles deveriam assumir as responsabilidades? Todas as responsabilidades. E ajustar no parlamento uma lei que envolve múltiplas questões às quais qualquer que seja a resposta vencedora à complexa pergunta do referendo estará longe de ser totalmente esclarecedora e inequívoca.

9 Comments:

At 1/11/2007 01:43:00 da tarde, Blogger D'artagnan said...

Discordo. Seja qual for o resultado da vontade dos portugueses, é um assunto demasiado "transversal" para que possa (ou deva) ser decidido na AR. Quanto aos partidos darem a sua opinião oficial, é um assunto sobre o qual são livres... assim como os militantes são livres de o seguirem ou não...

Viva o voto secreto!

 
At 1/11/2007 02:11:00 da tarde, Blogger Jerico & Albardas, Lda. said...

Tão transversal que vai permitir aos portugueses decidir o que os vizinhos podem ou não fazer...

 
At 1/11/2007 04:14:00 da tarde, Blogger D'artagnan said...

Todas as leis que são criadas, acabam por dizer aos vizinhos, o que eles podem ou não fazer. Por exemplo, se a lei penal diz que é proibido matar, está a dizer ao teu vizinho, que é proibido matar. Não vejo onde está a diferença.

Todas as leis, nos entram pela porta adentro, sem que tenhamos de as aprovar ou, sem que tenhamos de concordar com elas.

No caso do aborto, o problema é mais complicado, uma vez que extravaza o conceito da lei e entra no domínio do binómio moral/religião. É aí que está a diferença e a necessidade de chamar os eleitores a pronunciarem-se.

Nota, que até agora, ainda não disse qual é a minha opinião relativamente ao problema concreto que vai a referendo, até porque ainda tenho sérias dúvidas sobre qualquer uma das respostas possiveis.

 
At 1/11/2007 08:51:00 da tarde, Blogger lua-de-mel-lua-de-fel said...

Tenho de discordar em absoluto do Gato. Há matérias, como são exemplo as penais, que não são passíveis de referendo. Se o senhor perguntar à população se gostava que a pena de morte em Portugal entrasse em vigor, provavelmente teria como resultado um enorme "sim". A população não tem legitimidade para "votar" em determinadas matérias e, por isso, temos a AR. Além disso, esta questão além de penal é ética e não moral (esqueceu-se do que é a secularização e a divisão entre Estado e religião?).
Tentando responder ao Jerico. O problema, parece-me, reside na cobardia dos partidos que têm estado no poder. Como não houve coragem para decidir na AR sobre esta questão (de levar à AR) e, possivelmente, perderem alguns votos com essa decisão, optou-se pelo referendo. Aquando do primeiro referendo, se bem se lembram, o PR veio sensibilizar a população para que fossem votar, uma vez que só existindo mais de 50% de votantes é vinculativo o resultado. De outro modo, portanto, essa matéria seria decidida em AR. Ora, como também todos se devem lembrar, não houve mais do que 50% de votantes e, por isso, apesar do "sim" ter tido mais expressão não foi um resultado a ter em conta. Ou melhor, não devia ter sido levado em conta. Acontece, porém, que se preferiu fingir que os portugueses estavam-se a marimbar para a questão e "ficou tudo na paz do senhor", não se tomando qualquer decisão neste campo. O porquê? Só vejo a justificação no medinho dos índices de popularidade. Este referendo é uma patetice pegada, embora pense que vá ganhar o sim.

 
At 1/11/2007 10:31:00 da tarde, Blogger Jerico & Albardas, Lda. said...

"Todas as leis, nos entram pela porta adentro, sem que tenhamos de as aprovar ou, sem que tenhamos de concordar com elas."
Exactamente... e nesta matéria, havendo posições oficiais de quase todos os partidos(ao contrário do que aconteceu da 1º vez) não se justifica o referendo e a decisão podia ser tomada no parlamento.
(mas não sou contra os referendos, seja qual for a matéria, na medida em que dá a oportunidade dos portugueses escolherem o que querem)

"No caso do aborto, o problema é mais complicado, uma vez que extravaza o conceito da lei e entra no domínio do binómio moral/religião".
Discordo.É precisamente para não haver extravasamentos à lei que se referenda a hipótese de alterar ou não a lei actual. Tudo terá de ficar contido e definido na lei.
Por outro lado não entendo como é que manter ou alterar a lei, afecta as convicções morais ou religiosas de cada um e que obviamente devem ser respeitadas.
E é para as respeitar que não faz sentido impor as minhas convicções morais ou religiosas às dos outros.
Imposição que só acontecerá com uma das opções de voto.

 
At 1/12/2007 10:49:00 da manhã, Blogger D'artagnan said...

Lua

Há alguma matéria que a população não tenha legitimidade para votar???? Num regime democrático???? Não entendi. Importas-te de explicitar o teu ponto de vista?

 
At 1/12/2007 10:52:00 da manhã, Blogger D'artagnan said...

Por outro lado, irrita-me o facto de se fazerem sistemáticamente referendos sobre o mesmo assunto, até que se obtenha o resultado pretendido. Mas pronto, o argumento de não terem votado 50% dos eleitores, é justificação para alguns.

Já agora isso levanta outra questão. Se por acaso houver uma AR que não seja votada por 50% dos eleitores, deixa de ter legitimidade democrática?

Qual a tua opinião?

 
At 1/12/2007 02:55:00 da tarde, Blogger lua-de-mel-lua-de-fel said...

Respondendo: deixa de ter legitimidade democrática, porque isso é sintoma que há alienação da democracia e do próprio sistema democrático.As pessoas podem não votar por dois motivos: a extrema confiança na classe política, seja ela qual for (o que parece existir em algumas democracias nórdicas) ou porque se estão a borrifar para isso, uma vez que não reconhecem qualquer valor à política (a abstenção que temos). O voto é o mecanismo por excelência da participação democrática, se não há voto há alienação dessa participação. De qualquer modo, votar nos representantes políticos é de uma ordem diferente de votar nestas matérias, como o aborto ou qualquer outro tema legal/ético (clonagem, pena de morte, eutanásia, liberalização das drogas leves, divórcio, relações homossexuais, etc., etc. - reconhece ao povo que temos legitimidade para votar, vinculativamente, sobre estas matérias?)
Quanto à questão do aborto, respondo com outra pergunta: lembra-se que estamos numa democracia representativa e de quais são os três poderes que nos regem? Os poderes existem porquê?
De qualquer modo, o senhor tenta virar o bico ao prego, tentando insinuar que eu defendo que o povo não tem legitimidade para votar; não foi isso que eu disse, o que eu disse é que o voto do povo, que pode ser tido em conta (acrescento), não pode ser vinculativo em todas as matérias.
Os 50% não é justificação nenhuma, é a regra da legislação que temos, a qual foi sublinhada pelo PR antes, repito, antes do referendo de 98.

 
At 1/23/2007 09:36:00 da manhã, Blogger D'artagnan said...

Era exactamente este tipo de explicitação que eu pretendia que fizesses, uma vez que no outro comentário, havia de facto possibilidade de interpretar de maneira "enviezada" a tua opinião.

Com a quantidade de gente que lê comentários na diagonal e até notras linguas latinas, há que ter cuidado com o que escrevemos e explicitar tudo timtim por timtim. Senão ainda dizem que temos ambições políticas.

 

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