10.9.05

"No melhor pano..."

�LUSO: CEN�RIO PARA UMA �PERA

Uma garrafa de �gua sobre a mesa traz um jeito de cerim�nia e evoca de algum modo o tempo de uma sociedade que ia a banhos. Mas o Luso n�o � s� uma garrafa de �gua servida com requinte em mesa de hotel ou bebida com s�frego prazer ao balc�o de um caf� na beira da estrada. Luso foi lugar de habita��o de gente, foi aldeia de camponeses que pagavam foros a um antigo Convento de S�o Vicente e S�o Salvador que houve na Vacari�a e que n�o veio aqu�m do s�culo XI. J� no s�c. XVI, o bispo de Coimbra, que ficara senhor dos bens da igreja do Luso, doa as receitas ao Convento da Gra�a, em Coimbra.

�guas milagrosas brotavam de uma fonte da montanha, os Romanos at� souberam delas, depois perdeu-se o uso, at� que em meados do s�culo XIX se redescobrem e �s suas virtudes em termos de ci�ncia, e n�o de milagre. E inicia-se um movimento tendente ao seu aproveitamento termal, a que se ajusta outro dom da natureza que � a amenidade do clima e a tranquilidade do lugar.

No final do s�c. XIX e in�cios do s�c. XX, o Luso � est�ncia termal, segue a moda da Europa; os �ltimos fidalgos, os burgueses em crescimento, damas com as suas criadas, acorrem ao local que se apresta para os servir.

O Eng. Eiffel � convidado para a constru��o da piscina e desenha as ferrarias do casino, edifica��o de suave encanto que n�o serviu o jogo, mas viu festas galantes, bailes e celebra��es e hoje � ainda espa�o vivo de cultura e lazer. Em�dio Navarro, ministro do Reino dos finais da monarquia, incrementa o afluxo de gente, e ele pr�prio, que ajudara a levantar para o rei o Pal�cio da Vilegiatura [veraneio] do Bu�aco (Palace Hotel), ergue para si uma solene moradia, enquanto outros chal�s se levantam como n�tulas de exotismo nesta paisagem de verdura.

Mais tarde, democratizam-se as termas, a arraia-mi�da tamb�m vem, depois a moda tem altos e baixos merc� de raz�es sem conto.
Em 1940, inaugura-se o Grande Hotel das Termas, com projecto de Cassiano Branco, propriedade hoje, com a explora��o termal e o neg�cio das �guas, da Sociedade das �guas do Luso. Mas a Fonte de S�o Jo�o, com as suas bicas abertas e jorrando �gua sem descanso, continua matando a sede de passantes, de gente em veraneio e daqueles que, por poupan�a, enchem carros de garraf�es.

Na vizinha Capela de S�o Jo�o Evangelista, o santo ajudar� a aumentar a virtude das �guas, e h� gente que lhe deixa oferendas (ex-votos) por essa raz�o com certeza. � sombra da arborizada Serra do Bu�aco, de ameno clima, de sil�ncio, o Luso � s�tio para visitar, seja pela del�cia do olhar, seja por curiosidade somente, seja para matar a sede antes de ir subir o caminho da Cruz Alta, no Bu�aco, de peregrinar no Vale dos Fetos, de confessar amores junto � Fonte Fria.�

In Lugares a Visitar em Portugal, Selec��es do Reader?s Digest (ed.), Lisboa, 2001.

8 Comments:

At 9/11/2005 01:00:00 da tarde, Blogger Jerico & Albardas, Lda. said...

Tamb�m as �peras j� tiveram melhores dias.
Mas continuamos a ter a orquestra completa. S� falta gente que saiba cantar.

O estado da na��o tamb�m n�o ajuda.
Isto n�o est� f�cil.

 
At 9/11/2005 01:04:00 da tarde, Blogger lua-de-mel-lua-de-fel said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At 9/11/2005 01:07:00 da tarde, Blogger lua-de-mel-lua-de-fel said...

Burriqueiro,
tamb�m eu, apesar do optimismo de que me acusam, penso algumas vezes sair do pa�s. Ainda mais agora, depois do ranking do PNUD...
Estamos a viver, de facto, tempos sombrios, que se tornam insuport�veis pela m�o dos mass media (que esquecem de nos informar do que bom acontece; porque, de facto, acontece!). A nossa justi�a; a falta de fiscaliza��o dos que lesam o Estado, n�o em parcos tost�es, mas em quantias avultadas; a incompet�ncia dos nossos pol�ticos; dos m�dicos e dos seus lobbies; a falta de uma mudan�a estrutural no ensino e avalia��o de professores; o desaparecimento gradual de uma classe m�dia (tal como acontece nos pa�ses subdesenvolvidos); os crimes hediondos que s�o arquivados e prescrevem; os crit�rios dos nossos pol�cias; o desemprego que grassa; a falta de motiva��o para novas iniciativas; etc...s�o problemas que Portugal enfrenta e cuja solu��o n�o se vislumbra a breve trecho.
Isto n�o significa que estejamos num beco sem sa�da e que tudo seja mau. Quando generalizamos, ainda que isso seja sintoma do nosso mal-estar, as coisas tomam propor��es muito mais escuras do que s�o na realidade.
Continuamos a ter muitas pessoas de valor, profissionais competentes, um pa�s agrad�vel a muitos n�veis,... Em vez de abandonar o barco, dev�amos ter a coragem para ingressar na ideia e vontade de ajudar a melhorar o pa�s.
Isso passa por cada um de n�s, enquanto indiv�duos e cidad�os, fazer o que podemos no nosso espa�o. Pautar a nossa profiss�o por rigor e compet�ncia, n�o ter medo de invocar os nossos direitos e reivindicar melhores condi��es, n�o ter medo ou embara�o de ir contra-corrente e pedir explica��es a quem de direito, votar, investir em novos projectos, etc. Temos de perceber que vivemos numa democracia e que essa democracia est� longe de ser perfeita; temos de ser mais participativos, seja dentro ou fora da esfera pol�tica; temos de assumir que somos respons�veis e livres para tomar a nossa palavra. Temos a heran�a pesada da ditadura, que parece ainda toldar os nossos passos e palavras.
Este blog, a ideia que o anima (esquecendo o que aconteceu) � um bom passo para isso. N�o resolve por si, mas agita �guas e h�-de ter consequ�ncia (mais do que aquelas que supomos).
Estamos pr�ximos de elei��es e estamos a deixar receios nos pol�ticos da nossa pra�a (da� o meu lamento pelo desaparecimento do outro blog, onde havia mais debate; e da�, tamb�m, a minha insist�ncia neste).
Para mudar o pa�s, temos de come�ar por algum lado, a partir da nossa profiss�o, da nossa casa, do nosso Luso, da nossa C�mara.
O blog � um come�o, � o nosso ?�gora?! Que isso tenha consequ�ncias, depende de n�s. N�o sejamos velhos do Restelo nem esperemos por um salvador. Somos n�s os que podem mudar o rumo �s coisas, somos n�s que votamos nos que criticamos...temos o Luso, o pa�s, os pol�ticos, que merecemos!
N�o tenhamos medo de falar e de fazer! N�o sejamos mais ovelhas que engrossam o rebanho! Tenhamos essa coragem e essa humanidade: por n�s, pelos nossos filhos, por aqueles que pagaram com sangue os direitos que hoje temos?

 
At 9/11/2005 01:34:00 da tarde, Blogger lua-de-mel-lua-de-fel said...

A tend�ncia para o branco?lol

 
At 9/11/2005 01:42:00 da tarde, Blogger lua-de-mel-lua-de-fel said...

Caro burriqueiro, n�o � optimismo o que me alimenta as palavras.
Penso apenas que, uma vez que temos uma classe pol�tica incompetente, que est� l� por muitas raz�es que, geralmente, n�o se prendem com o m�rito (vejam as nossas listas e depois digam-me), dev�amos ter a coragem de entrar nessa esfera e fazer mudan�as; infelizmente estamos todos muito acomodados. Por outro lado, mesmo que n�o estejamos, por muitos motivos, preparados ou dispostos a entrar em tal "reduto", temos sempre a capacidade de dizer a nossa palavra: n�o em conversa de caf�s, mas participar mais activamente nos destinos do nosso futuro. Seja votando, seja reivindicando melhores condi��es, seja indo �s assembleias, seja escrevendo no blog, seja pedindo explica��es aos que elegemos por acreditarmos nos seus programas (que, invariavelmente, esquecem, mas que as pessoas tamb�m nunca leram, porque se continua a votar em empatias sociais e cor pol�tica mais do que em projectos pol�ticos).

 
At 9/11/2005 08:58:00 da tarde, Blogger lua-de-mel-lua-de-fel said...

LOL

 
At 9/12/2005 11:35:00 da tarde, Blogger jibita said...

� burriqueiro.....o Sud Express ainda passa no Luso.....tenta apanha-lo quando vai para os lados de trezoi......e para s� no pais dos avecs.......talvez essa azia te passe

 
At 9/16/2005 05:20:00 da tarde, Blogger O Grama-o-Fone said...

"Cai a n�dia"

 

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