Politicamente correcto

No outro dia de manh�, como � costume, aparelhei as albardas no meu Jerico e pus-lhe os sacos de milho para levar para o meu moinho, para fazer alguma farinha.
Com tudo no s�tio, l� partimos, todos sorridentes e em grande estilo, comigo � frente a puxar pelas r�deas do jumento.
�amos n�s nas nossas velhas calmas, quando ouvi umas beatas, a cortarem-me na casaca:
- Coitado do burro, t�o carregado e o homem de m�os vazias, a assobiar...
At� me caiu o apito... mas como gosto de me dar bem com toda a gente, peguei em alguns sacos e pus �s costas.
Uns montes mais � frente, encontrei um grupo de cavadores, que me disseram em tom jocoso:
- Olhem pr?aqueles dois. Nem sei quem � mais burro, se o dono ou o animal, ent�o em vez de ir em cima do burro, ainda carrega com sacos �s costas?
Incomodado com os coment�rios daqueles brutos, mas para n�o parecer do contra, l� pus os sacos em cima do burro e montei em cima dele.
Ainda eu n�o tinha esvaziado a minha terceira garrafita de pingol, quando me cruzei com um grupo de defensores dos animais:
- � homem, voc� n�o tem uma pinga de vergonha? E ainda por cima a beber enquanto conduz...N�o v� que o burro j� vai com os bofes de fora?
Fosca-se - pensei eu, que quase me ia engasgando. Ser� que ningu�m me arranja uma solu��o que satisfa�a a todos? Bem l� tenho eu que carregar com os sacos �s costas.
Mas como tal empreitada era imposs�vel, ficaram alguns sacos pelo caminho.
O Jerico n�o parou de me focar o resto do caminho, com aqueles olhos aparvalhados, que s� eles sabem fazer.
E foi assim, a muito custo e com o costado todo mo�do, que j� noite dentro, conseguimos chegar com algum milho ao meu moinho.
- Chi�a Jerico, quem me manda a mim tentar agradar a toda a gente... Arre.